Confesso, sou um carioca atípico!!!
Não me enquadro no arquétipo normalmente atribuído aos cariocas em geral; não gosto de Carnaval, embora já tenha frequentado muito as quadras de Escolas de Samba; não me encanta torcer fervorosamente por futebol, embora já tenha ido muito aos estádios; não sou de ir à praia, ficar estendido na areia "pegando um bronze" ou mergulhar, "pegar jacaré", prefiro o ambiente próximo, ficar a sombra junto a um quiosque bebericando uma cervejinha; embora, na minha juventude, não houve sequer um período de férias de início de ano que eu não tenha ido para uma cidade balneária e dado uns bons mergulhos!!!
Sempre preferi o ambiente de matas fechadas, de preferência que houvesse uma cachoeira!!!
Nesse ambiente, me sinto a vontade, me integro à Natureza e sinto meu ser voltar a uma comunhão com os elementos; vejo a mata fechada como uma catedral gótica, as árvores sendo as colunas e os contrafortes, os ramos formando uma abóboda sobre minha cabeça e as folhas filtrando a luz um magnífico vitral que nenhum artista seria capaz de reproduzir!!!
Claro que nesse contexto a cachoeira seria o altar-mor, lugar de maior relevância em todo o conjunto!!!
Foram essas lembranças de muitas cachoeiras que tive ao ver essa imagem, porém outra me veio a mente!!!
Lembrei-me de um poema de Olavo Bilac, lido faz tempo, mas que, misteriosamente como são essas coisas da memória, me veio a mente e saí em busca para aqui reproduzi-lo:
"Vive dentro de mim, como num rio,
Uma linda mulher, esquiva e rara,
Num borbulhar de argênteos flocos, Iara
De cabeleira de ouro e corpo frio.
Entre as ninfeias a namoro e espio:
E ela, do espelho móbil da onda clara,
Com os verdes olhos úmidos me encara,
E oferece-me o seio alvo e macio.
Precipito-me, no ímpeto de esposo,
Na desesperação da glória suma,
Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...
Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:
E a mãe-d'água, exalando um ai piedoso,
Desfaz-se em mortas pérolas de espuma."
A união desses dois altares em que faço minhas reverências, a cachoeira e o corpo nu de uma mulher, alteres que eu ouso, de maneira profana, adorar e neles ter prazer, foram a razão da minha lembrança!!!
Talvez, no fundo, sempre deseje ter esse contato mitológico com um e com outro; se na cachoeira sempre espero encontrar a Iara sedutora das lendas brasileiras, pronta a me dar prazer, a me fazer um homem totalmente dedicado a esse prazer, no corpo de uma mulher sonho ser um Eros, um deus do Amor, e buscar em seu corpo a comunhão que nos propicie o prazer, o orgasmo!!!
Pois é, essa divagações despertaram um desejo!!!
Minha Amada, vamos programar urgentemente uma viagem para um lugar onde exista uma cachoeira bem afastada, em meio a uma mata, e, ouvindo o borbulhar das águas, os sons da floresta, vamos nos amar profana e sacramente, vamos fazer com que nossos gemidos, sussurros se integrem a essa sinfonia das águas e sons; vamos misturar as mitologias como misturamos nossos sumos, como nossa vida já está misturada uma a outra!!!
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